Em 1992, o magnata Roberto Marinho (1904-2003), em um editorial no jornal 'O Globo' e no noticiário Jornal Nacional, dirigiu-se ao então governador do Rio de Janeiro, Leonel Brizola (1922-2004), chamando-lhe de "senil". Tal atitude valeu um direito de resposta a Brizola no Jornal Nacional, jornal mais assistido do Brasil, que foi lido por Cid Moreira, âncora do noticiário, dois anos depois, em 1994.
A ação de direito de resposta, obra do advogado Arthur Lavigne, foi inédita e abriu caminho para que os cidadãos buscassem amparo legal contra ilegalidades cometidas pela imprensa - neste caso específico, num editorial, Roberto Marinho, o dono das Organizações Globo, havia chamado Brizola de "senil".
O texto lido quela ocasião foi preparado pelo jornalista Fernando Brito, Secretário de Imprensa de Brizola, com a colaboração dos jornalistas Luiz Augusto Erthal e Osvaldo Maneschy, que também trabalhavam na Secretaria de Imprensa. Coube a Brizola a revisão final.
O direito de resposta foi requerido em fevereiro de 1992, em função de matéria ofensiva da TV Globo a Brizola, devido à carta que ele enviou ao político Marcello Alencar. O Tribunal de Alçada Criminal do Rio de Janeiro, por unanimidade, confirmou sentença da 1ª. instância, determinando que a Globo veiculasse no Jornal Nacional o "Direito de Resposta". Eis a íntegra do texto:
"Todo sabem que eu, Leonel Brizola, só posso ocupar espaço na Globo quando amparado pela Justiça. Aqui, citam o meu nome para ser intrigado, desmerecido e achincalhado perante o povo brasileiro. Ontem, neste mesmo Jornal Nacional, a pretexto de citar o editorial de O Globo, fui acusado na minha honra e, pior, chamado de senil.
Tenho 70 anos, 16 a menos que o meu difamador, Roberto Marinho. Se é esse o conceito que tem sobre os homens de cabelos brancos, que use para si. Não reconheço na Globo autoridade em matéria de liberdade de imprensa, e, basta, para isso, olhar a sua longa e cordial convivência com os regimes autoritários e com a ditadura que por 20 anos dominou o nosso país.
Todos sabem que critico, há muito tempo, a TV Globo, seu poder imperial e suas manipulações. Mas a ira da Globo, que se manifestou ontem, não tem nenhuma relação com posições éticas ou de princípio. É apenas o temor de perder negócio bilionário que para ela representa a transmissão do carnaval. Dinheiro, acima de tudo.
Em 83, quando construí a Passarela, a Globo sabotou, boicotou, não quis transmitir e tentou inviabilizar, de todas as forma, o ponto alto do carnaval carioca. Também aí, não tem autoridade moral para questionar-me. E mais: reagi contra a Globo em defesa do Estado e do povo do Rio de Janeiro que, por duas vezes, contra a vontade da Globo, elegeu-me como seu representante maior. E isto é o que não perdoarão nunca.
Até mesmo a pesquisa mostrada ontem revela como tudo na Globo é tendencioso e manipulado.
Ninguém questiona o direito da Globo mostrar os problemas da cidade. Seria, antes, um dever para qualquer órgão de imprensa. Dever que a Globo jamais cumpriu quando se encontravam no Palácio Guanabara governantes de sua predileção. Quando ela diz que denuncia os maus administradores, deveria dizer, sim, que ataca e tenta desmoralizar os homens públicos que não se vergam diante de seu poder. Se eu tivesse pretensões eleitoreiras de que tentam me acusar não estaria, aqui, lutando contra um gigante como a Rede Globo. Faço-o porque não cheguei aos 70 anos de idade para ser um acomodado.
Quando me insultam por minhas relações administrativas com o Governo Federal, ao qual faço oposição política, a Globo vê nisso bajulação e servilismo. É compreensível. Quem sempre viveu de concessões e favores do poder público não é capaz de ver nos outros senão os vícios que carrega em si mesmo.
Que o povo brasileiro faça seu julgamento, e, na sua consciência lúcida e honrada, separe os que são dignos e coerentes daqueles que sempre foram servis e gananciosos".