Um Barco para um Morto - O Sítio arqueológico de Sutton Hoo

Descoberta de Sutton Hoo, em 1939, enquanto operários ingleses cavavam e construíam trincheiras e obstáculos anti-paraquedistas e anti planadores

Sutton Hoo é um sítio arqueológico localizado na Inglaterra, no condado de Suffolk, na região do antigo Reino da Ânglia Oriental. Em 1939, foi descoberto dois morros funerários datados da época anglo-saxã inglesa, entre os séculos VI e X EC (Era Comum). Em um desses morros foi encontrado um grande barco funerário, incrivelmente preservado para sua datação.


Localização de Sutton Hoo

As primeiras escavações ocorreram durante a Segunda Guerra Mundial. Operários ingleses estavam construindo trincheiras e obstáculos militares, para impedir que paraquedistas e planadores alemães aterrissassem nos campos orientais da Inglaterra.

Em meio as escavações de trincheiras e valetas (que seriam inundadas), os operários descobriram restos de um cemitério medieval,  principalmente os restos de um grande navio, estilo nórdico (navio que os "Vikings" usavam). Rapidamente eles informaram arqueólogos do Museu Britânico, que começaram a estudar de facto os sepulcros.


Vista aérea de Sutton Hoo. Podem perceber 2 "linhas"  diagonais entre os morros. Essas linhas eram as antigas trincheiras anti-planadores da Segunda Guerra.

Maquete encontrada no Museu Britânico, ilustrando como o Barco de Sutton Hoo foi desenterrado na década de 1930.

Sutton Hoo é um dos principais sítios arqueológicos para a História Medieval do Reino Unido, pois lançou uma luz sobre um período da História Inglesa até então desconhecida, o Período Anglo-Saxônico (dos séculos V ao Século XI). Os itens encontrados nesse sítio são de uma qualidade incrível, e que nos ajuda a entender como era a cultura anglo-saxônica.


Elmo cerimonial de ferro com detalhes em ouro, uma das principais peças encontradas em Sutton Hoo

A espada de Sutton Hoo. Ricamente decorada com ouro e prata. No Museu Britânico, onde se encontra atualmente, ela foi "remontada" sobre um suporte de acrílico. A lâmina ainda se encontra dentro da bainha de madeira e couro. A espada é datada de 620 EC (Era Comum). A qualidade dessa espada e dos outros artefatos mostram que foram dedicadas, realmente, a um rei saxão. Elas foram enterradas junto ao cadáver dessa pessoa imponente para mostrar o quão importante ela era em vida e para equipá-la para a vida após a morte.

Moedas e pedaços de ouro encontrados dentro de restos de vasos e bacias, dentro do "Navio Nórdico". Muitas da moedas carregavam símbolos usados pelo Reino da Frankia, de Carlos Magno. Isso indica um certo grau de comércio entre os reinos anglo-saxônicos da Grã-Bretanha e a Europa Continental.

Réplica altamente decorada de uma "bolsa de moedas" encontra em Sutton Hoo. Podem perceber a rica decoração, baseada nos restos da "bolsa de moedas" original, encontrada entre os pertences do grande senhor feudal, que foi enterrando com seus pertences e seu navio.

Possivelmente o morro funerário principal, onde o barco de madeira se encontrada pertencia a  Raedwald, um dos principais governantes do antigo reino da Ânglia Oriental. Outra coisa percebida através dos itens encontrados em Sutton Hoo é o auto grau de "miscigenação" entre a cultura nórdica (original dos anglos, dos saxões e dos jutos) e a cultura cristã, que se espalhou pela Europa na fase final do Império Romano.


Colar anglo-saxão feito de ossos e decorado com pedras coloridas, encontrada juntamente com as moedas, a espada e o elmo, no sepulcro principal.

A escavação inicial foi patrocinada pelo proprietário da terra em que Sutton Hoo se localizava, mas quando o significado da descoberta tornou-se evidente, os peritos nacionais assumiram o patrocínio e as escavações. Escavações posteriores à descoberta, especialmente no final da década de 1960 e final de 1980, explorou o local mais ao fundo, descobrindo outras ossadas enterradas próximas ao sepulcro principal. 

Os artefatos mais importantes do navio - enterro, exibida no Museu Britânico , são aqueles encontrados na câmara funerária do barco nórdico, incluindo um conjunto de acessórios de vestido metais em ouro e pedras preciosas, um capacete cerimonial, escudo e espada, uma lira , e muitas peças da placa de prata de Bizâncio e do Reino da Frankia.


Réplica do escuto circular encontrado em Sutton Hoo, muito comum na época do século VII.

Itens encontrados nos outros morros funerários, localizados em volta do morro fúnebre principal, o do Barco Nórdico.

Enterrar os senhores e reis em barcos é uma tradição usada pelos povos nórdicos a muito tempo. Os anglo-saxões sempre mantiveram algumas tradições de sua terra natal, mesmo eles sendo "catequizados" e seguindo as doutrinações da Igreja Apostólica Romana.

Atualmente, todo o material referente a Sutton Hoo está localizado no acervo do Museu Britânico.


Matheus Santos da Silveira
Professor de História formado pela PUCPR
Especialista em História Contemporânea e Relações Internacionais

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9 Comentários

  1. Assisti o filme ''A Escavação''. Muito bom. Desperta curiosidade em nós. Bacana.

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  2. Cavando trincheiras? Informação errada ao que parece.

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    1. É o que me pareceu também, fora outros desencontros de informações que citei no meu comentário.

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  3. Sei que o filme é baseado num romance escrito por John Preston, mas alguns dos personagens, como Edith Pretty e Basil Brown me pareceram ser reais a partir de leituras sobre a descoberta em outros sites, noutras matérias sobre o tema. O que me chama atenção nessa matéria é que o início das escavações parece ter acontecido de modo totalmente acidental, por outro lado, cita-se "o proprietário" e não "A PROPRIETÁRIA", pode parecer bobo, (para alguns, mi-mi-mi ou militância) mas é importante o fato de ser uma mulher a proprietária, a interessada na escavação e a doadora do tesouro. A história oculta a participação das mulheres em tantos eventos importantes, e essa reportagem "parece" esconder mais uma vez a participação de uma mulher, considerando q não sou uma profunda conhecedora do fato. Também não poderia deixar de ressaltar a ausência de referência a Basil Brown que aparentemente foi uma figura central na descoberta, apesar de seu "amadorismo".
    A história oficial é escrita pelos vencedores, e nela, infelizmente, até hoje, só os homens, brancos e poderosos é que parecem ter um lugar no pódio.

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    1. Aparentemente esta matéria foi publicada em abril de 2014,estou certa? De qualquer modo, nunca é tarde demais para se retratar.

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  4. Bruna, endosso totalmente seu comentário!!!

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  5. Nota-se que fizeste uma pesquisa superficial.
    O terreno foi comprado pelo MARIDO já com o intuito de efetuar pesquisas arqueológicas, devido às histórias locais. Com o falecimento do marido, Edith se tornou herdeira legal e deu continuidade ao que haviam planejado. Confira:
    https://super.abril.com.br/cultura/a-escavacao-a-historia-por-tras-do-novo-filme-da-netflix/amp/

    Lembrando que a versão criada pela Netflix foi feita para agradar os MIMIMIs como você, pois não há romances na história e muito menos há um suposto relacionamento homossexual como ocorre no filme. Aliás, assim como ocorre na maioria de filmes e séries lançadas ultimamente. Tudo para gerar o máximo lucro atingindo o maior número de público possível. Quanto mais visualizações, mais $$$ no caixa.
    Parabéns pela seguidora que adquiriu.

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