O Dia que Durou 21 Anos. Castelo Branco (direita, sem quepe), um dos articuladores do golpe e primeiro presidente do regime militar. Divulgação/Pequi Filmes. |
Listas sobre filmes que abordam o período da ditadura militar no Brasil existem aos montes pela internet. O projeto História Ilustrada já divulgou algumas delas em outras ocasiões.
Dessa vez, trazemos algo diferente: preferimos elaborar uma seleção de filmes que mostram de forma diversificada o que foi viver naquela época. Talvez você já tenha visto alguns, talvez você conheça apenas de nome e sempre teve curiosidade de assistir, talvez você nunca tenha ouvido falar de tal filme.
O importante é que você entenda a ideia que está sendo passada aqui: nenhuma análise acerca de qualquer período da história será satisfatoriamente construída se for embasada somente num contexto exclusivamente político.
Por isso, tentamos trazer alguns títulos que têm a ditadura seja como pano de fundo, como personagem atuante ou simplesmente como coadjuvante, enquanto o momento cultural, social ou político é abordado com mais contundência pelos autores dos filmes.
Seus pais, militantes de esquerda contra a ditadura, em pleno ano de 1970, logicamente não tinham embarcado numa viagem para se divertir, mas nada disso é contado a Mauro, que após a morte do seu avô é obrigado a morar com o vizinho em São Paulo.
E é nesse ambiente de solidão, introspecção e isolamento dos demais, que a criança é colocada, envolta numa sociedade setentista sob o regime militar (recriada de forma impecável) e tendo a Copa do Mundo também como background.
Não espere um filme político, explícito e que fale sobre a ditadura. Espere um retrato interessantíssimo da história de um grande número de crianças e famílias que foram afetadas diretamente pela situação política no Brasil.
Cabra Marcado para Morrer (1985)
Personagens bem reais de Cabra Marcado para Morrer (Gaumont do Brasil/1985) |
Este
é considerado por muitos um dos melhores filmes do Eduardo Coutinho,
um dos maiores cineastas brasileiros e que infelizmente não está
mais entre nós. O longa caminha entre linguagens documentais e
ficcionais, mas com uma razão muito coerente para isso.
A ideia de “Cabra Marcado para Morrer” era a de uma obra semidocumental acerca da vida de João Pedro Teixeira, líder camponês paraibano que foi assassinado no ano de 1962. O grande problema é que o projeto foi interrompido graças ao golpe militar.
Coutinho só conseguiu retomar esse trabalho no ano de 1985, abrangendo de forma mais ampla o tema do filme, mostrando os personagens reais que participariam da concepção inicial e contando a história das ligas camponesas de Galiléia e Sapé.
O documentário possui vários momentos interessantíssimos que mostram a manipulação de informações durante o período da ditadura, seja através de comunicados oficiais dos militares ou até mesmo de jornais que até hoje continuam na ativa.
Um filme que precisa ser visto.
O curto e delicioso longa (com o perdão do paradoxo das palavras) mostra de forma não linear o estouro do movimento tropicalista, seu fim, seu meio.
Através de imagens raras, sempre permeadas pelas vozes em off daqueles que participaram do movimento, vozes poéticas e de resistência, somos levados a embarcar numa imersão que nos faz abusar das capacidades sensoriais para compreender aquele período cheio de estupor criativo, vontade de viver, de resistir e de beber amargamente o cálice que era oferecido pela situação política do Brasil.
Uma Noite em 1967 (2010)
Uma Noite em 1967/Divulgação. |
Este documentário de Ricardo Calil e Renato Terra mostra um dos festivais de música mais marcantes da história cultural do Brasil.
O momento era a final do III Festival da Música Popular Brasileira da TV Record. A data era 21 de outubro de 1967. Os personagens bem reais eram Chico Buarque, Caetano Veloso, Gilberto Gil, Roberto Carlos, Edu Lobo, Mutantes, Sérgio Ricardo, entre outros.
E o que faz deste documentário algo atraente para quem quer entender a época da Ditadura Militar no Brasil?
Bem, se com esses nomes acima você ainda não está com vontade de ver, o filme traz imagens raríssimas, exemplos imagéticos contundentes do início do movimento tropicalista e da fragmentação política que se formava entre os artistas entre todo o caos social predominante no mundo durante o fim da década de 1960.
Os Doces Bárbaros (1976)
O
registro feito por Jom Tom Azulay na década de 1970 é uma pérola
para os olhos e ouvidos. Trazendo a música de 4 expoentes músicos
brasileiros (Caetano Veloso, Gilberto Gil, Gal Costa e Maria
Bethânia), através do grupo Doces Bárbaros, vemos como pano de
fundo uma sociedade vivendo a conservadora ditadura militar
brasileira.
E é só por isso esse filme está na lista? Claro que não.
O documentário mostra situações, entrevistas e apresentações que só poderiam ter acontecido durante o período da ditadura, sendo excelente para que a época estudada seja contextualizada de forma mais completa.
Como no caso da prisão de Gilberto Gil, o que poderia ter sido apenas um caso simples, mas que se transformou em algo de proporções inacreditáveis.
O Dia que Durou 21 Anos (2012)
Este documentário dirigido por Camilo Galli Tavares aborda, meio que acidentalmente, a influência do governo estadunidense no golpe militar que ocorreu no Brasil.
Acidentalmente porque o filme contaria a história do pai de Tavares, jornalista militante contra a ditadura. Mas o diretor acabou tomando outros rumos quando descobriu que os Estados Unidos possuíam um vasto acervo documental sobre a queda de João Goulart. E daí saiu a ideia de abordar a participação norte-americana no "dia que durou 21 anos".
Com entrevistas, filmagens históricas e opiniões de historiadores, o filme se compõe como um excelente material de apoio para o estudo sobre a época.
Manhã Cinzenta (1969)
Deixamos o filme mais explosivo (e esse é o adjetivo mais adequado para a obra de Olney São Paulo) para o final por motivos que vão se tornar óbvios quando você der o play no vídeo abaixo.
Olney foi perseguido, preso, torturado, censurado, mas mesmo assim conseguiu fazer com que seu filme, confiscado pelos militares, sobrevivesse. Para fugir da censura, o cineasta-militante enviou cópias para diversos festivais de cinema ao redor do mundo, o que também o levou para a prisão.
E é justamente através desse processo de enclausuramento e tortura que o filme aborda a Ditadura Militar no Brasil, encenada com toques realísticos, embora utilize alegorias que tornam tudo na tela um pouco estranho, mas não totalmente longe da realidade que o país vivia naquela época.
Glauber Rocha, grande entusiasta de Olney, dá o seu veredicto sobre o filme em Revolução do Cinema Novo:
Manhã cinzenta é o grande filmexplosão de 1967/8 e supera incontestavelmente os delírios pequeno-burgueses dos histéricos udigrudistas.
Ficou curioso? Então aproveite esse grande momento do cinema político brasileiro.
Bem, com toda a certeza desse mundo você conhece vários outros filmes que abordam o período do regime militar no Brasil. Então, aproveite o espaço dos comentários e troque conhecimento, para que cada vez mais um número maior de pessoas tenha acesso a obras que ficam perdidas entre as produções cinematográficas com maior investimento e quase nenhuma qualidade.
Equipe de produção do artigo:
Beatriz de Miranda Brusantin
Doutora em História Social pela Universidade Estadual de Campinas
Coordenação de Produção e Pesquisa Histórica
Bruno Henrique Brito Lopes
Graduando em História pela Universidade Católica de Pernambuco
Coordenação de Redação e Edição
Raphael Esteves de Almeida Jacinto
Graduando em História pela Universidade Católica de Pernambuco
Pesquisa e Produção de Texto
Pesquisa e Produção de Texto
9 Comentários
Boa a matéria, mas faltou o filme "O que é isso companheiro?". Representante do Brasil no oscar em 95
ResponderExcluirfaltou tambem Pra Frente Brasil
ResponderExcluirÉ faltou pra frente Brasil
ResponderExcluirgolpe não tá, contra golpe! parece que não conhece a historia!
ResponderExcluirFalta vergonha dessa raça maldita que defende os terroristas, porque na verdade os bandidos e terroristas que lutavam para implantar uma ditadura do proletariado sequestrando, assaltando, explodindo bombas em aeroportos, sofreram um contra golpe e foram derrotados. O povo brasileiro vai conhecer a verdade e sentir NOJO de vocês que tentam a qualquer custo deturpar a história.
ResponderExcluiré verdade meu caro, continuam mentindo pra sociedade, contando uma história mentirosa e distorcida, mostrando apenas o lado esquerdista vitimista, mas a verdade está vindo à tona e a internet está nos ajudando nessa missão difícil de desmentir as falácias dos comunistas terroristas.
ExcluirFaltou o filme "Olga".
ResponderExcluirBatismo de Sangue
ResponderExcluirA maioria desses filmes demonizam o exército brasileiro, que apenas cumpriu seu papel que está na constituição brasileira de cuidar e manter a democracia, não houve "ditadura", não houve um "ditador" e depois que a situação do país se restabeleceu o exército devolveu o poder para o povo. Em ditaduras como em cuba, o poder se perpetua e qualquer oposição ou manifestação contra esse governo, é massacrada, como o que está ocorrendo hoje na Venezuela e é apoiado por Lula, Ciro Gomes, Haddad, Manuela D'ávila e companhia.
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