Escolher um bom filme para curtir no final do dia pode se revelar uma missão complexa nos dias de hoje. Antigamente essa escolha podia ficar a cargo dos poucos canais dedicados a isso, cabia a você escolher entre assistir a uma obra ou simplesmente mudar de canal ou desligar a TV e ir fazer outra coisa.
Hoje, com o advento dos inúmeros serviços de streaming, o cenário é totalmente diferente. Agora cabe a você selecionar uma entre milhares de obras disponíveis. Há quem passe tanto tempo tentando escolher um filme que acaba desistindo da tarefa.
Com o objetivo de facilitar a vida de quem quer ver um bom filme com viés histórico, o História Ilustrada vai fazer uma série de publicações sugerindo obras de boa qualidade e disponíveis em plataformas populares. Dessa vez vamos explorar o que tem de interessante sobre a Segunda Guerra Mundial na Netflix. As obras aqui apresentadas não são documentários. Tratando-se de ficção baseada em fatos históricos, algumas delas são mais fidedignas ao que de fato aconteceu. Outras nem tanto. De qualquer forma essas obras agregam ao nosso entendimento, uma vez que ajudam a ilustrar o período e fazem pensar sobre os desafios passados pelas pessoas que viveram na época.
Algo que é preciso ser comentado de imediato é o total enfoque dessas obras sobre o nazismo. A presença da Alemanha Nazista na Segunda Guerra é algo inegável. Sua relevância no conflito não é algo sequer a ser discutido, mas também não pode ser negado que falar desse evento e não falar dos incontáveis outros desdobramentos que ocorreram é um completo reducionismo. A guerra não foi intitulada de MUNDIAL atoa. Poderíamos conversar por horas sobre consequências sofridas nos quatro cantos do globo. E sim, temos obras aclamadas que retratam essas histórias da Segunda Guerra fora do eixo nazista, mas pouquíssimas estão na Netflix.
Dito isso, vamos à lista. Ressalto, ainda, que a sequência dos filmes não é um ranking qualitativo, e que se você se interessar por História tanto quanto este que aqui escreve, recomendo apreciar todas essas obras.
#1 - Corações de Ferro
A primeira produção que trazemos na lista já coloca em questão um elemento em constante questionamento entre os historiadores: o simbolismo em torno dos personagens... O heroísmo que sugere que os eventos históricos poderiam ser diferentes se uma ou outra pessoa tivessem tomado outras decisões. Toda essa visão heroica, muitas vezes acompanhada da personificação de características positivas, é descartada em Corações de Ferro. A frase dita por um soldado, "ideais são pacifistas, história é violência", é muito bem representada em todo o longa, que faz questão de demonstrar o horror e a barbaridade da guerra não apenas do lado nazista, mas também pelos vencedores.
Historicamente a trama busca retratar o final da guerra na Europa, já em 1945, onde a fome a sujeira já estão por toda a parte. Eles acompanham um grupo de soldados responsáveis por um veículo blindado cujo objetivo se resume a sempre buscar o próximo alvo.
#2 - O banqueiro da resistência
O Banqueiro da Resistência, 2018 (Dutch Filmworks/Netflix).
Pensar na Segunda Guerra Mundial como um evento simplesmente militar ou mesmo dramático por conta dos crimes contra a humanidade não é um entendimento completo sobre o conflito. As invasões que duraram anos, as preparações que ocorreram antes e até mesmo os desdobramentos ao final do conflito percorreram gerações inteiras e afetaram as pessoas de diferentes e múltiplas formas.
Essa produção holandesa conta uma história burocrática, mas dramática e envolvente, de como um banco clandestino operou na Holanda com o objetivo de prestar suporte a judeus e à resistência no país ocupado pela Alemanha Nazista. A obra, baseada em fatos reais, chegou a ser indicada pela Holanda para concorrer ao Oscar de Melhor Filme Estrangeiro, e oferece ao espectador a oportunidade de entender como era a vida nas ditaduras colaboracionistas implantadas pelos nazistas em toda Europa ocupada.
Dunkirk, 2017 (Syncopy/RatPac Entertainment).
Dunkirk é outra obra que, como Corações de Ferro, retrata a guerra de um modo realista, como um evento tão impactante quanto uma catástrofe natural, que afeta tudo e todos ao seu redor, sem margem para grandes heróis individualizados. Nesse caso, o longa retrata um episódio dramático de retirada das tropas aliadas, cercadas pelo Eixo na Europa Continental, num momento que teve grande mobilização de civis britânicos, que utilizaram embarcações de passeio ou pesca para auxiliar na operação.
#4 - O Resgate do Soldado Ryan
O Resgate do Soldado Ryan, 1998 (Paramount Pictures).
Aqui temos um dos filmes mais conhecidos da temática da Segunda Guerra. Dirigido também por um dos nomes mais famosos do mundo do cinema, Steven Spielberg, o longa conta a história de uma operação de resgate para minimizar uma das sequelas mais evidentes de uma guerra: as vidas perdidas. Começamos no Dia-D, momento decisivo para o desfecho do conflito, onde milhares de soldados adentram num continente dominado pelos nazistas. O drama é constante e é uma experiência obrigatória para os cinéfilos que apreciam filmes históricos.
A Segunda Guerra Mundial não é chamada de mundial atoa. O confronto teve vetores de todos os continentes. De uma forma ou de outra, quase todos os países foram afetados pelo conflito, seja diretamente, seja por efeitos econômicos ou diplomáticos. É nesse contexto que esse longa baseado em fatos reais se insere, trazendo ao espectador um campo de concentração cheio de prisioneiros espanhóis, um país supostamente neutro, mas que estabeleceu laços com o nazismo durante sua guerra civil. O principal foco da trama está em torno das fotografias tiradas para a própria administração do campo, mas que, no contexto da derrota nazista, tornam-se importantes provas dos crimes contra a humanidade ali cometidos.
#6 - Retratos de uma guerra
Retratos de Uma Guerra, 2018 (Vertical Entertainment).
Retratos de uma guerra é um filme incomum no que aborda sobre a Segunda Guerra. Apenas para contextualizar, lembre-se que no começo do conflito, a União Soviética de Stalin e o Terceiro Reich de Hitler tinham um objetivo em comum: expansão territorial. Os dois países estabeleceram um pacto de não agressão que só seria rompido pelos nazistas em 1941, quando foi deflagrada a Operação Barbarossa.
Voltando a falar do filme, este se passa numa União Soviética em expansão que invade a Lituânia e faz civis de prisioneiros, os enviando para campos de trabalhos forçados. Aqui acompanhamos o sofrido dia a dia de uma jovem desenhista que teve seu sonho interrompido pela guerra. É uma produção interessante à medida que oferece ao espectador a perspectiva de pensar nos vencedores da guerra como figuras também perversas, capazes de estabelecer condições sub humanas para aqueles que não são seus iguais. Inclusive sob um ponto de vista étnico, o que frequentemente se vê somente associado aos nazistas. Um ponto indesejado que observamos nesse filme é que, apesar de uma produção da Lituânia, ocorre o uso da língua inglesa nos diálogos, o que diminui a imersão em uma trama que deveria ser apresentada nos seus idiomas nativos.
Que a Segunda Guerra é um assunto exaustivamente trabalhado no cinema, não podemos negar. Há quem diga que não tem mais espaço pra retratar o tema com originalidade nas telonas. Essa lista diz o contrário, pois temos diversas obras recentes trazendo abordagens novas ou pouco exploradas. Operação Final é um desses exemplos: lançado em 2018, o longa conta a história da operação secreta responsável pela captura do militar nazista fugitivo Adolf Eichmann, um dos maiores responsáveis pela operacionalização do Holocausto.
Aqui teremos a oportunidade de pensar na guerra como algo que não acaba com um acordo ou rendição. Os responsáveis por crimes contra a humanidade são julgados ao fim do conflito. Alguns foram condenados, outros optaram pelo suicídio como último ato. Muitos outros, porém, fugiram com novas identidades para países como Brasil e Argentina. Por limitações envolvendo diplomacia e soberania, a captura de Eichmann ficou a cargo do serviço secreto israelense, o Mossad, que realizou uma missão secreta para levar o nazista a julgamento 15 anos após o fim da Segunda Guerra Mundial.
#8 - Torpedo U-235
Torpedo U-235, 2019 (Column Films/Netflix).
Se escolher o melhor filme nessa lista é uma tarefa muito difícil (e que eu não me arrisco a fazer), eleger o pior já é bem fácil. Essa produção belga é tão grosseira que pensei muito se valeria a pena incluí-la na publicação. Se trata de um filme que tenta trabalhar personagens com humor ao mesmo tempo que se insere no contexto sensível de uma guerra. Como expectador tive a sensação de que algumas cenas e diálogos foram simplesmente desnecessárias e que a produção perdeu a oportunidade de trabalhar com qualidade um tema pouco explorado nas telonas: submarinos na guerra.
Ainda assim, Torpedo U-235 fica na lista porque aborda assuntos que os outros longas não. Veremos um submarino com uma missão logística, transportando urânio da África para os Estados Unidos, onde está sendo desenvolvida a bomba atômica. Apesar das falhas, dá a oportunidade de pensar no assunto e observar a guerra de uma perspectiva diferente.
A batalha esquecida é uma produção Netflix que surpreendeu bastante pela qualidade. Produzido na Europa, o longa segue a boa prática de reproduzir as línguas nativas de cada país no conflito, o que dá ao filme uma imersão a mais. A história aqui contada retrata a Europa pós-Dia-D, em processo de liberação pelos Aliados. São histórias entrelaçadas que abordam os dramas de militares dos dois lados do conflito, além da vida dos civis na Holanda ocupada pelos nazistas.
O último item da lista não é precisamente um filme, mas sim uma minissérie de apenas 4 episódios que acompanha uma longa trajetória de um soldado que passaria 500 dias em ação Europa a dentro. The Liberator é uma mescla de animação e live action, isso ocorreu porque os produtores acharam o projeto caro demais para que fosse filmado de modo convencional. O pode causar uma estranheza inicial, mas não demora muito para seja absorvido como parte da sua representação artística.
Bruno Henrique Brito Lopes
Graduado em História pela Universidade Católica de Pernambuco.
1 Comentários
Dos 10, já assisti 8! Realmente os filmes ajudam a gente a enxergar a guerra de outras perspectivas.
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